sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A Sensação do Poder

- Preciso mesmo fazer isso?
- É claro que precisa.
- Mas eu... eu estou com medo, senhor.
- É sua função. Faça e ponto final.
- Não.
- Faça. Agora.
- Não quero dores, senhor. Não quero ser culpada pelo mal.
- O mal já foi feito. Os culpados serão punidos. Faça sua parte de uma vez por todas!
- Para onde o levarei?
- Dei-te um reino todo seu, ele ainda é imaculado. Leve-o até lá.
- Como pode ter tanta certeza de que ele não irá fugir?
- Não fui eu quem criou o maldito lugar? Pois então é perfeito. Todas as minhas criações são perfeitas.
- Nem todas, senhor... esses seres a quem chama de homens não são perfeitos. Se fossem, eu não precisaria estar aqui.
- Você é parte integrante dos homens, minha criança... você será o fim dos trágicos e o terror dos vívidos.
- Ora, já está vendo o futuro de novo? Qual a graça de saber o que vai acontecer antes de acontecer?
- Não desvie o assunto... faça agora, ele está sofrendo!
- Estou com medo!
- É necessário! Não vê que ele agoniza e espera pela sua chegada? Por que fazê-lo sofrer mais, sua insensível?! Vamos, acabe com ele de uma vez por todas.
- O que vai acontecer depois?
- Faça e descubra!
- Não, me conte primeiro! Eu vou gostar?
- Ah, sua insolente, faça agora mesmo ou acabo contigo!
- Se sou parte integrante do homem, o senhor não ousaria acabar comigo. Diga-me: vou gostar?
- Apenas pelo seu atrevimento vou responder-te: você irá adorar!
- Vou gostar de causar sofrimento?
- Se você não levá-lo agora mesmo, juro, por todas as gotas do oceano que te arranjo uma substituta!
- Tudo bem, mas quero apenas dizer que não vou gost-
- FAÇA!

(...)

- Pronto, pronto, está feito!
- Assim está melhor.
- Senhor?
- Sim?
- Quando vou poder fazer isso de novo?
- Virão muitas oportunidades.
- Eu... eu não me senti mal, nem um pouco. Ouvir os gritos e as súplicas foi como me sentir... viva!
- Ora, não diga besteiras! Você, sentindo-se viva?!
- Por que não posso me sentir viva?
- De todas as coisas que você pode sentir, vida é a última delas. É sua sina. Ou esperava que tanto poder fosse te dado assim, de graça?
- Quer dizer que essa sensação nunca mais vai voltar?
- Só quando outros homens morrerem. E muitos morrerão. Já disse que muitas oportunidades virão.

Ele sabia que Abel havia sido só a primeira faísca. Sabia também que ela ainda causaria dores extremas ao longo de muito e muito tempo, apenas pelo prazer de se sentir viva novamente.
Resolveu não falar sobre o futuro, guardando tudo para si. Afinal, era a sina dele, essa de saber de tudo. Tanto poder não poderia vir assim, de graça.

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