sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Sexta-feira nublada

quem sou eu pra você?
esse seu jeito de dizer 'você é especial' é sincero?
ou é apenas uma soma de palavras dita por pena?

olhando para nossas fotografias
para o riso que dávamos
e as poses que fazíamos
e os sonhos que nutríamos
as citações que escrevíamos
os livros que líamos
as músicas que ouvíamos
as pessoas que admirávamos
o mundo que queríamos só para nós
tudo isso realmente existiu?
ou são minhas fantasias?
meus próprios desejos não-identificados em você?

minhas dúvidas são bobas
absurdas, obtusas, sem sentido
mas me peguei pensando nisso
me peguei pensando no que nós somos
e no que seremos

me pergunto se isso tudo é sincero

(25/09/09)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

“Memória de Minhas Putas Tristes”, Gabriel García Márquez

Não sou do tipo que vai a uma livraria com exatos dezesseis reais no bolso e compra um livro; também não sou do tipo que lê no ônibus no caminho de volta para casa; e tampouco sou do tipo que lê um livro inteiro em poucas horas.

Mas com o livro “Memória de Minhas Putas Tristes” quebrei todos esses meus paradigmas particulares. Estava na minha visita solitária ao shopping, na pós-sessão de cinema de “Up: Altas Aventuras”, e passei na livraria, munido de dezesseis reais livres – troco do ingresso, comes e bebes. Fiquei bastante tempo lá, lendo prefácios e orelhas de livros de bolso e de grandes editoras, resolvido a comprar alguma coisa com o dinheiro que tinha. Olhei, procurei, virei e revirei a livraria e peguei um dos exemplares de “Memória de Minhas Putas Tristes”. Dei de ombros e falei: ‘É você mesmo... é o mais barato daqui”.

Paguei, fui até a fila do ônibus e comecei a ler o livro logo ali, por total falta do que fazer – eram sete da noite e Niterói inteira parecia espremida naquele terminal rodoviário a caminho de São Gonçalo.

Logo que comecei a ler, ainda na fila do ônibus, fui invadido por sensações que dificilmente me invadem – ainda mais no caso de um livro tão pequeno e com letras garrafais como este, com uma gritaria dos infernos de “Bala! Pipoca! Salgadinho! Coca-cola é dois real!”.

Logo ao primeiro parágrafo, o personagem principal do livro fala de suas intenções. É possível perceber toda a melancolia de suas palavras. Com noventa anos, crítico musical e cronista de uma coluna semanal, o personagem principal é notadamente amargurado. Amargurado pela vida longa e aparentemente sem nenhum acontecimento importante; amargurado por uma solidão que se estende de seu nascimento até o dia de seu aniversário de noventa anos.

Tomado subitamente por um ímpeto, ele decide se dar de presente uma noite de amor com uma menina virgem e desconhecida. Para isso, liga para Rosa Cabarcas e deixa tudo acertado para o encontro com a menina. A partir daí, a trama se desenrola. Com maestria, como não poderia deixar de ser.

O lirismo de cada palavra de Márquez é indescritível. O texto, em primeira pessoa, carrega em si toda a solidão do personagem. Eu, particularmente, me pergunto se o próprio Gabo não se confunde com o personagem principal da história.

O livro trata, acima de tudo, sobre o amor. Sobre o amor tardio, sobre o amor não correspondido, sobre o amor platônico, sobre o amor paixão, sobre o amor e sobre o amar. São inúmeros adjetivos e substantivos que se confundem numa mescla de sentimentos e sensações que arrebatam o leitor de forma única.

“No ano de meus noventa anos quis me dar de presente uma noite de amor louco com uma adolescente virgem. Lembrei de Rosa Cabarcas, a dona de uma casa clandestina que costumava avisar aos seus bons clientes quando tinha alguma novidade disponível. Nunca sucumbi a essa nem a nenhuma de suas muitas tentações obscenas, mas ela não acreditava na pureza de meus princípios. Também a moral é uma questão de tempo, dizia com sorriso maligno, você vai ver. Era um pouco mais nova que eu, e não sabia dela fazia tantos anos que podia muito bem estar morta. Mas no primeiro toque reconheci a voz no telefone e disparei sem preâmbulos:

- É hoje.”

Memória de Minhas Putas Tristes, Gabriel García Márquez – Pág. 7

O romance desenhado pelas palavras de Márquez é um ultimato ao amor. Mesmo que tardio e de uma forma completamente inesperada, ele pode acontecer. Recomendadíssimo!

PEDRO, ME DÁ MEU CHIP!

Tá bom, pode ser meio velho, pode ter mais de um milhão de visualizações, mas ainda assim não deixa de ser engraçado. E se, às altas horas da madrugada, uma mulher completamente alterada começasse a gritar "PEDRO, ME DÁ MEU CHIP, TRAZ O QUE É MEU, VOCÊ ROUBOU, EU VOU CHAMAR A POLÍCIA, ABRE ESSA PORTA, ABRE ESSA PORTA, ME DÁ MEU CHIP, SEU LADRÃO!"

É claro que você também gravaria e colocaria no youtube, não?


segunda-feira, 21 de setembro de 2009

"Misto-quente", Charles Bukowski

Não sou profundo conhecedor do movimento beatnik nem conheço muitos escritores que aderiram a esse movimento. Para falar a verdade, Bukowski é o primeiro do gênero que leio. E posso dizer que, se todas as obras beatniks forem tão boas quanto “Misto-quente”, então vale a pena conhecê-las mais a fundo.

Mas vamos lá, pelo começo: conheci o Bukowski por acaso, num encontro chuvoso em Niterói pelo Campo de São Bento e Plaza Shopping com uns colegas que não tenho lá muito contato. São os integrantes do Lápis Autônomos, grupo do qual eu faço parte mandando textos (muito) esporadicamente. Um pessoal bem legal, cujo único propósito é escrever, sem fins lucrativos ou ideais muito traçados. É escrever para externar o que se sente, pra se divertir, pra gritar no silêncio das palavras.

Ok, deixemos o Lápis Autônomos para outro post e nos concentremos no Bukowski.

Comprei o livro “Misto-quente” nas minhas andanças pela XIV Bienal do Livro. A capa da editora é um tanto quanto sugestiva: um homem e uma mulher rolando pelo chão, seminus, brigando pelo controle de um telefone, enquanto no chão jazem uma garrafa que aparenta ser de bebida alcoólica e um cinzeiro com cinzas espalhadas para todos os lados.

E é exatamente como a capa que o livro segue em toda a sua história: sujo.

Não há melhor adjetivo para resumir o livro “Misto-quente” além desse: sujo. Seja nas palavras, nas ações, nos pensamentos do personagem principal ou no contexto no qual a história se desenrola, ela é suja do início ao fim.

O livro conta a história de Henry Chinaski Jr., desde sua infância até a vida adulta. Filho de um pai autoritário e uma mãe passiva, descendente de alemães e com um grave problema de acne, Chinaski não tem perspectiva de vida alguma. Passa pela crise de 1929 e pela Segunda Guerra Mundial se preocupando em quanto vai finalmente conseguir uma foda. Não tem sonhos de se tornar alguém na vida, mas, ao contrário disso, se conforma com o que a vida lhe deu e tenta se divertir ao máximo com isso.

É possível notar – até mesmo porque o próprio prefácio do livro o diz – que o livro tem toques autobiográficos. Quem conhece a biografia de Bukowski sabe que o apelido que ele nutre de velho safado não está aí à toa. Pra quem não conhece, vale a pena dar uma pesquisada. É bom ver quando o personagem e o autor se confundem; com isso, o texto se mostra ainda mais sincero.

Mesmo com toda a sujeira e agilidade do texto, “Misto-quente” traz um quadro interessante de uma época. Mostra o lado sujo e pobre dos EUA, o não-idealismo e o não-patriotismo praticamente inexistentes nos filmes ou livros mais ‘dentro do padrão norte-americano’.

Li o livro em três dias e percebi, na minha leitura particular, que a minha vida não é tão ruim assim, se comparada com a do Chinaski.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A Sensação do Poder

- Preciso mesmo fazer isso?
- É claro que precisa.
- Mas eu... eu estou com medo, senhor.
- É sua função. Faça e ponto final.
- Não.
- Faça. Agora.
- Não quero dores, senhor. Não quero ser culpada pelo mal.
- O mal já foi feito. Os culpados serão punidos. Faça sua parte de uma vez por todas!
- Para onde o levarei?
- Dei-te um reino todo seu, ele ainda é imaculado. Leve-o até lá.
- Como pode ter tanta certeza de que ele não irá fugir?
- Não fui eu quem criou o maldito lugar? Pois então é perfeito. Todas as minhas criações são perfeitas.
- Nem todas, senhor... esses seres a quem chama de homens não são perfeitos. Se fossem, eu não precisaria estar aqui.
- Você é parte integrante dos homens, minha criança... você será o fim dos trágicos e o terror dos vívidos.
- Ora, já está vendo o futuro de novo? Qual a graça de saber o que vai acontecer antes de acontecer?
- Não desvie o assunto... faça agora, ele está sofrendo!
- Estou com medo!
- É necessário! Não vê que ele agoniza e espera pela sua chegada? Por que fazê-lo sofrer mais, sua insensível?! Vamos, acabe com ele de uma vez por todas.
- O que vai acontecer depois?
- Faça e descubra!
- Não, me conte primeiro! Eu vou gostar?
- Ah, sua insolente, faça agora mesmo ou acabo contigo!
- Se sou parte integrante do homem, o senhor não ousaria acabar comigo. Diga-me: vou gostar?
- Apenas pelo seu atrevimento vou responder-te: você irá adorar!
- Vou gostar de causar sofrimento?
- Se você não levá-lo agora mesmo, juro, por todas as gotas do oceano que te arranjo uma substituta!
- Tudo bem, mas quero apenas dizer que não vou gost-
- FAÇA!

(...)

- Pronto, pronto, está feito!
- Assim está melhor.
- Senhor?
- Sim?
- Quando vou poder fazer isso de novo?
- Virão muitas oportunidades.
- Eu... eu não me senti mal, nem um pouco. Ouvir os gritos e as súplicas foi como me sentir... viva!
- Ora, não diga besteiras! Você, sentindo-se viva?!
- Por que não posso me sentir viva?
- De todas as coisas que você pode sentir, vida é a última delas. É sua sina. Ou esperava que tanto poder fosse te dado assim, de graça?
- Quer dizer que essa sensação nunca mais vai voltar?
- Só quando outros homens morrerem. E muitos morrerão. Já disse que muitas oportunidades virão.

Ele sabia que Abel havia sido só a primeira faísca. Sabia também que ela ainda causaria dores extremas ao longo de muito e muito tempo, apenas pelo prazer de se sentir viva novamente.
Resolveu não falar sobre o futuro, guardando tudo para si. Afinal, era a sina dele, essa de saber de tudo. Tanto poder não poderia vir assim, de graça.

domingo, 6 de setembro de 2009

Indignação

Hoje não vou fazer nenhum post com poesias, devaneios romanescos ou um conto fantástico. Hoje o papo é sério, realidade nua, crua e indigesta.

Durante o início da manhã da sexta-feira passada (04/09), uma confusão se instaurou na boate paulista "A Loca", envolvendo os escritores e movimentadores culturais Liz Vamp e Kizzy Ysatis.

Não acompanho o trabalho dos dois de perto. Conheço o Kizzy graças ao livro "Clube dos Imortais: A Nova Quimera" e o admiro muito por tudo o que conseguiu como escritor, visto que a literatura fantástica brasileira ainda é bastante marginalizada. Não os conheço pessoalmente, nem mesmo alguma vez falei com um dos dois. No entanto, isso não me isenta de sentir indignação pelo fato ocorrido.

Tudo bem, vamos aos fatos.
"De acordo com o registro, a confusão começou depois que uma comanda que pertencia ao escritor (Kizzy Ysatis) foi encontrada no chão e ao ser chamado para pagar a conta, o rapaz disse que já havia pago e o funcionário do caixa chamou o gerente. Ainda segundo o relato da ocorrência, nesse momento começou uma discussão que terminou em agressões entre o escritor, a cineasta (Liz Vamp) e o gerente do local. Na delegacia, o gerente disse que apenas revidou as agressões dos clientes. "

Trecho da reportagem do G1, que pode ser lida integralmente aqui.
A reação dos amigos, familiares e admiradores de Kizzy e Liz foi quase instantânea. Logo, dezenas de blogs e sites vieram expressar a indignação por conta do caso. É o que estou fazendo agora. Espero - mesmo com toda a minha ceticidade acerca da justiça brasileira - que o caso se resolva com rapidez; que os culpados não fiquem impunes e que tudo possa ser esclarecido da melhor forma possível.

Vi as fotos de Kizzy no site da G1 e no pronunciamento que o próprio fez em seu blog pessoal, e não posso dizer que o que aconteceu foi um caso corriqueiro, uma bobeirinha à toa. Foi caso sério, e merece toda a atenção possível por parte das autoridades. Kizzy teve lesões no crânio e hematomas por todo o corpo, as fotos podem provar isso; o estabelecimento pouco - ou nada - fala sobre o assunto. Tamanho silêncio, por quais motivos?

Da minha parte, transborda indignação. Não só por ele ser escritor e ter todos os motivos do mundo para estar certo, mas por ser uma pessoa de bem que, sem motivos aparentes, foi espancado quase até a morte por uma futilidade desnecessária.

Desejo melhoras ao Kizzy - que certamente foi quem mais sofreu fisicamente - e força para Liz e para todos aqueles que os conhecem melhor do que eu conheço. Tenho certeza que o Kizzy vai se recuperar e vai voltar arrebentando!

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Morte ao Som de Mojo Pin

Hoje me peguei pensando na morte. Assim, de repente, comecei a refletir. E se eu morresse agora, nesse exato instante? Tenho dezessete anos, sonhos realizados e a se realizar. Nunca tive um grande amor, nunca fiz uma maluquice digna de nota. Vivi – até agora, certamente – de um modo até que normal, sem muitas reviravoltas... com algum choro, algum riso, algumas lembranças, fotografias e filmagens.

Mas no que se resume tudo isso, logo ao fim? É só isso o que sobra? Lembranças, fotos e filmagens?

Penso que a morte não é difícil, ao menos não para quem morre. A morte é triste, é ruim, é natural... mas a parte mais difícil fica para quem está vivo. São eles que choram e que não se conformam; são eles que veem o defunto no caixão e têm uma vã esperança de que ele se levante e diga “ainda não morri, era brincadeira!”.

Isso não acontece.

Não sei porque me peguei pensando nisso. Talvez um pouco da minha veia dramática tenha finalmente entrado em ação depois de tanto tempo de reclusão; talvez seja apenas um pequeno lapso obscuro de depressão, talvez seja palhaçada de um desocupado... não sei.

Só sei que a morte me assusta. Me assusta porque é um mistério, me assusta porque entristece, me assusta porque é o fim – ou quem sabe, apenas o começo.