terça-feira, 31 de março de 2009

Maldita Procrastinação

"Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso."

- Fernando Pessoa


Que Fernando Pessoa é um gênio das palavras, disso não há dúvidas. É verdade que conheci-o a pouco tempo - não acho que tenha lido poemas suficientes para defini-lo, e duvido que algum dia consiga tamanha proeza - através dos comentários positivos de um professor. Curioso, vi o livro de Poesias de Álvaro de Campos numa banca de jornais a preço de banana e então comprei-o.

O trecho acima é do poema que abre o livro. Se chama "Adiamento", e é bem claro do tema que trata: procrastinação. Para quem não sabe, procrastinação é a arte do "depois eu faço", do "deixa pra mais tarde". Irritantemente constante na minha vida. No momento estou procrastinando uma dezena de trabalhos escolares e responsabilidades com os estudos para o famigerado vestibular para estar sentado aqui, digitando um texto que provavelmente será lido por meia dúzia de pessoas, com a trilha sonora da Amy Winehouse, com a música - não por coincidência, é claro - "Procrastination".

Daí eu me pergunto: quão constante a procrastinação é nas nossas vidas? Li, em uma reportagem, que os inteligentes gostam de procrastinar. Gostam porque querem ter a sensação da correria, de fazer tudo na última hora. Adrenalina, diz a reportagem. Eu me considero inteligente e procrastino. Fernando Pessoa procrastinava; Amy Winehouse - sim, apesar de louca, eu a considero inteligente - procrastina. Mas só os inteligentes gostam disso? Onde fica a barreira entre a procrastinação e o comodismo?

Não sei, não tenho respostas para nenhuma de minhas indagações. Mas tinha que colocar isso para fora. É irritante ser um procrastinador. Não dá prazer, só aflição e impaciência. Provavelmente alguém vai falar: "ah, vai fazer o que tem que fazer e para de falar merda". Gostaria que fosse assim tão fácil.

Sei que vou procrastinar muito até o próximo post, então até lá.

Veja Também:

"Adiamento" - Fernando Pessoa
"Procrastinação"

sexta-feira, 13 de março de 2009

Indignação Monetária

Ok, sei que não vivo em nenhum país de primeiro mundo e que nem todo mundo é rico, mas qual é o problemas dos ditos 'estabelecimentos alimentícios' (que englobam desde multisupermercados até padarias de esquina)?

Contarei minha epopeia aos poucos, quem sabe para dar um tom mais dramático do que ela merece: começou comigo em uma caminhada homérica até o médico, partindo do colégio. A caminhada entre um ponto e outro é realmente longo - coisa de três quilômetros, no mínimo -, e, já no quilômetro primeiro, tudo o que eu mais queria era um pouco de água para saciar minha sede. Chequei minha carteira e percebi que tudo o que tinha era uma nota de cinquenta reais para pagar a consulta médica. Ok, até aí nenhuma reclamação. A consulta não iria tomar todo o meu dinheiro e dava tranquilamente para comprar uma água.

É aí que entra a drama: onde comprar a água? Quem, em dignos três quilômetros de caminhada, seria capaz de me trocar uma nota de cinquenta reais? NINGUÉM! Exatamente, ninguém em um raio de TRÊS QUILÔMETROS me foi capaz de trocar uma nota.

E o mais interessante é que, à medida que andava, minha sede aumentava, física e psicologicamente.

Tive a ideia de esperar chegar ao médico, procurar um bebedouro por lá, ou, no mínimo, trocar meu dinheiro e conseguir uma nota de menor valor.


Assim que cheguei ao médico, vasculhei a recepção em busca de um bebedouro, e qual a minha surpresa ao perceber que não havia nenhum disponível? E o pior: o médico só estaria lá a partir das 17:00h (eram 13:30h) e o pagamento não poderia ser feito antecipadamente, e nem a recepcionista tinha notas menores para trocar pela minha.


Frustrado, pensei até mesmo em pegar um ônibus para voltar para casa, mas sabia que o trocador não teria dinheiro suficiente para me dar troco. Enfim, voltei a pé.


O mais engraçado é que, quando você está com sede, parece ver água em tudo quanto é canto: parecia que o número de camelôs gritando “olha a água!” naquele calor infernal aumentou consideravelmente, bem como os freezers expostos nas portas das padarias. Mas, sempre que entrava, a mesma resposta vinha quando estendia a nota de cinquenta: “não tenho troco”.


Minha boca mal tinha saliva quando finalmente cheguei em casa. Bebi quase um litro e meio desse precioso líquido incolor, inodoro e insípido, com a sede de mil perdidos no deserto. E não pude deixar de pensar como, mesmo com dinheiro, as coisas podem ser tão complicadas. Imagino se não tivesse nenhum centavo.