segunda-feira, 10 de maio de 2010

"Feliz Ano Novo", Rubem Fonseca

Nunca dei muito valor aos autores nacionais. Não sei exatamente o motivo: se é um tipo de repulsa involuntária, se descaso ou simplesmente falta de publicidade ou preços acessíveis aos livros brasileiro. No fim, tudo não passa de desculpas esfarrapadas, eu sei. Por isso estou tentando reverter esse processo degenerativo.

Já ouvi o nome Rubem Fonseca uma dezena de vezes – o cara é um dinossauro da literatura brasileira e seus livros são muito bem vendidos e criticados, obrigado –, mas parei realmente para prestar atenção ao nome após uma entrevista da escritora do livro ‘Gonzos e Parafusos’, Paula Parisot. O repórter fez uma pergunta acerca da troca de Rubem da editora Companhia das Letras para a Record, uma fofoca literária que dizia que a autora era a culpada pela tal troca. Ela disse que não e nada mais a declarar. Mais tarde, durante o tal do ‘bate-bola-jogo-rápido’, o repórter pergunta a ela: Raymond Chandler ou Rubem Fonseca?, e ela, rindo, responde: alguma dúvida? Rubem Fonseca!

Aí está. Não, nunca li Raymond Chandler – uma deficiência que pretendo suprir o quanto antes –, mas sou fascinado pela estética noir e pelos romances policiais. Tal comparação atiçou meus neurônios para ler o tal Rubem Fonseca. Nunca tinha lido nada nacional que rodasse no tema da literatura policial, e como precisava ter uma ideia de como giram os personagens pelas marginais paulistas e calçadões cariocas, resolvi que seria uma boa ideia lê-lo.

Comprei o livro que agora tenho o prazer de resenhar, ‘Feliz Ano Novo’, juntamente com ‘Agosto’, do mesmo autor, ‘Ed Mort e outras histórias’, uma coletânea de contos de Luis Fernando Veríssimo e um outro que já não me recordo o nome, sobre a história de Zuzu Angel, todos rodando pelo tema policial. Resolvi ler ‘Feliz Ano Novo’ em primeiro lugar. Não posso dizer que me arrependi. Nem um pouco.

O livro é uma união de contos, uns maiores, outros menores, mas todos muito rápidos, transitando sobre temas um tanto quanto impactantes a primeira vista: logo no primeiro conto – que dá título ao livro – somos apresentados a um bando de ladrões que discute irrelevâncias antes de partir para algum assalto na véspera de ano novo. Logo segue-se a ação, com uma sequência final bastante, er... não há outra palavra: impactante.

O livro gira em torno de ladrões, prostitutas, homens mal-amados e incompreendidos, mulheres inconsequentes e amarguradas. Não há um continuum ou algo que ligue os contos além da imundície – seja ela literal ou subjetiva – onde os personagens se encontram mergulhados: sempre desesperançosos, sempre à beira de um colapso ou sem um tostão no bolso. Os contos são bruscos, um choque à pacificidade do dia a dia, uma chacoalhada nos nervos e nas opiniões sobre quem pensa que o mundo é um lugar colorido e bonito de se viver.

‘Feliz Ano Novo’ é um livro que deixa atrás de si marcas para quem lê: seja para quem mastiga cada conto e extrai dele todos os seus significados e simbolismos, seja para quem – como eu – lê apressadamente no ônibus, com fones no ouvido e pessoas conversando em todos os lados. Não creio que o livro tenha uma mensagem definida ou alguma lição de moral para ser passada, não acredito que seja sua função, mas creio que, mesmo involuntariamente, ele deixa nem que seja uma nota de rodapé no subconsciente da gente: ‘o mundo não é bonito, fique sabendo. Ele é um lugar cheio de dores e de gente pronta para te sacanear à mínima piscadela. Portanto, fique alerta’.

Um soco na boca do estômago, acho que essa é a melhor forma de tentar definir o livro ‘Feliz Ano Novo’. Não é à toa que se trata de um livro altamente lido e bem criticado. Vale a pena ler cada parágrafo.

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