quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

"Brisingr", Christopher Paolini


Chegando no final de 2008 nas livrarias brasileiras, o terceiro livro da série, “Brisingr”, vem em um trambolho de mais de 700 páginas em uma edição surpreendentemente bem-acabada da Rocco, com poucos erros em uma tradução aparentemente veloz (o livro chegou praticamente ao mesmo tempo nas livrarias norte-americanas).

Como muitos, acompanho a trilogia (que não é mais trilogia, diga-se de passagem) desde “Eragon”. Não é uma má série; a história tem, sim, muitos aspectos de “Senhor dos Anéis” e “Guerra nas Estrelas”, mas ainda assim tem seus méritos e funciona.

Em um mundo composto por humanos, elfos, dragões, anões e outras criaturas de universos fantásticos, “Brisingr” é o terceiro livro da saga “A Herança”. O nome do livro se refere à uma palavra da Língua Antiga que significa “fogo”. Foi esta a primeira palavra da Língua que Eragon aprendeu.

Pra quem nunca leu os livros e não conhece o enredo, aí vai uma brevíssima sinopse da parte essencial da história: Eragon, um camponês de quinze anos, é surpreendido ao encontrar, durante uma caçada, uma misteriosa pedra azul, que posteriormente se revela um ovo de dragão. O jovem camponês conhece, através de Brom (um contador de histórias do vilarejo) as histórias dos antigos Cavaleiros de Dragão, extintos há muito tempo pelo rei tirano Galbatorix. Com o nascimento do dragão de Eragon, o garoto passa a ser o único Cavaleiro em toda a Alagaësia.

Ao descobrir sobre Eragon e seu dragão (uma fêmea chamada Saphira), Galbatorix vê nisso uma ameaça ao Império. Com isso, Eragon, perseguido pelos vassalos do imperador, é obrigado a fugir, e parte, junto com Brom, até o abrigo dos Varden, um grupo formado por rebeldes ao Império.

No terceiro livro da série, Eragon, em aliança com os Varden, continua ao lado dos rebeldes contra o Império do rei tirano. Recheado de inúmeras batalhas, ossos expostos e sangue aos baldes, o livro é uma boa distração. No entanto, mais de 700 páginas são realmente desnecessárias.

O livro, no começo, não funciona. É extremamente cansativo e enfadonho (e há momentos em que a vontade de largá-lo só não falou mais alto por minha curiosidade de saber como tudo acabava). O autor gasta tempo demais com detalhes supérfluos do livro (fica quase um parágrafo inteiro pra descrever o nascer do sol, como a luz bate nas pedras e etc), e, nos momentos empolgantes, não gasta muito tempo para nos deixar apreensivos. Um dos momentos mais esperados desse terceiro livro não chega a durar duas páginas. Você chega a se perguntar: “É assim? Acabou?”.

Mas ele não é de todo ruim. Há cenas que empolgam (principalmente as lutas constantes e praticamente intermináveis de Roran – primo de Eragon – enquanto o Cavaleiro de Dragão está ausente), bem como acontecimentos importantes para o último livro. O que eu senti, ao ler Brisingr, foi que ele serviu apenas de ponte para o próximo (e espero que último) livro da série.

Outra boa tacada do autor, nesse livro, foi o de escrever capítulos sob o ponto de vista do dragão Saphira (coisa que não aconteceu nos dois volumes anteriores). Ele tenta passar sensações diferentes do ponto de vista dos humanos, com sentidos e imagens mais importantes do que descrições propriamente ditas. Uma boa jogada, que funcionou muito bem em determinadas horas.

Paolini tem uma escrita muito boa (apesar de, como já disse, ter achado “Brisingr” um pouco descritivo demais) e, com o decorrer do livro, torna as coisas até interessantes. O final chega a ser empolgante, comparado ao resto do mesmo. Mas, ainda assim, esse livro se mostrou ser o mais fraco dos três já escritos, funcionando nada mais nada menos para colocar uma meia dúzia de acontecimentos e lucrar alguns milhares a mais.

Com alguns méritos e muitos deméritos, “Brisingr” realmente poderia ser menor e terminar de uma vez por toda com a saga do menino camponês que encontra um ovo de dragão. Mas como as coisas nunca são do jeito que queremos, o máximo que se pode fazer é esperar e torcer para que o último volume finalize a série de uma forma interessante.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

And The Oscar Goes To... (Melhor Filme)

Pois é! Estamos chegando na temporada de avant premières, de grandes orçamentos cinematográficos e de filmes cult (ou não). É o Oscar, e nós adoramos!

No tapete vermelho desse ano, atores e atrizes de peso (como sempre) disputam a atenção da Academia para o tão cobiçado homenzinho de ouro. O Oscar talvez seja o prêmio máximo do cinema americano, e não é à toa que os estúdios, os atores e os diretores praticamente de comem vivos nessa disputa.

A lista é muito grande, e, por isso, vou me resumir a dar uma de José Wilker ou Rubens Ewald Filho e dar pitaco no que eu acho dos concorrentes a melhor filme desse ano.

E os concorrentes são... (por ordem alfabética do título em português):

1º Curioso Caso de Benjamin Button, O (Fox Searchlight)
2º Frost/Nixon (Universal Pictures)
3º Leitor, O (Weinstein Corporation)
4º Milk – A Voz da Igualdade (Focus Features)
5º Quem Quer Ser Um Milionário? (Fox Searchlight)

1º O Curioso Caso de Benjamin Button

O primeiro filme da lista, “O Curioso Caso de Benjamin Button”, encabeçando em seu elenco principal Brad Pitt e Cate Blanchette, dois atores de peso, vem com um enredo no mínimo estranho: Benjamin Button é um homem que nasceu como um velho e, à medida que o tempo passa, rejuvenesce.

A narrativa pode parecer estranha, e o filme, beirando as três horas de projeção, pode assustar. Mas ele funciona. Funciona perfeitamente. É um filme agradável que, se não tivesse essa narrativa estranha, seria apenas mais um de amor. Mas talvez o enredo o torne diferente. Além, é claro, de uma qualidade técnica surpreendente, tanto na maquiagem quanto no figurino e na adaptação dos cenários para um filme que começa nos anos 20.

Benjamin Button talvez abocanhe muitos prêmios técnicos, mas tenho minha dúvidas quanto às categorias principais. Talvez ganhe a estatueta de melhor filme por todo seu primor e a soma de suas qualidades. Mas, pessoalmente falando, não é meu favorito.

2º Frost/Nixon

O segundo filme, Frost/Nixon, é baseado em uma história real, e conta o que aconteceu nos bastidores da lendária entrevista que David Frost fez à Richard Nixon, algum tempo após a renúncia do presidente norte-americano. Entrevista lendária que eu, até o momento do filme, não fazia ideia que existia xP O filme é bem tenso em algumas horas, e uma boa diversão. Acho que, dentre os concorrentes a estatueta de melhor filme, é o mais fraco (e mais fraco, para o Oscar, é no mínimo ótimo). Apesar de ótimas atuações (principalmente de Frank Languella, na pele de Richard Nixon) é pouco provável que o filme ganhe o Oscar de melhor filme.

3º O Leitor
(ATENÇÃO: CONTÉM SPOILERS!)

O Leitor é o terceiro indicado. Um filme que surpreendeu ao ser indicado a Oscar de melhor filme, e que me surpreendeu quanto a sua qualidade. Depois de abocanhar o Globo de Ouro de melhor atriz, Kate Winslet tenta uma dobradinha com o filme. E, se ganhar, será muito merecido. Acho que só assim pra ela compensar aquele Oscar perdido com Titanic, hein?! Mas, brincadeiras a parte, voltemos ao filme. A história se passa em forma das lembranças que Michael, o personagem principal (interpretado por Ralph Fiennes) têm dos momentos de sua adolescência, quando conheceu Hanna (Kate Winslet), e que acabam ajudando a moldar o presente dele. Eles se conhecem em uma circunstância estranha, quando Michael, sofrendo de um princípio de escarlatina, vomita na esquina do prédio onde Hanna mora. Ela cuida dele por aquele dia, dando-lhe um banho. Depois, já curado de sua doença, o rapaz volta para casa da mulher, e os dois passam a terem relações sexuais cada vez mais intensas.

Mas o nome do filme não é “O Leitor” à toa: depois que já partilham intimidade suficiente, Hanna pede, todas as vezes antes da transa, que Michael leia um pouco para ele. Já daí, é possível notar que a personagem é analfabeta (o que, em momento nenhum do filme, fica explícito, mas é alta e facilmente presumível). Esse analfabetismo é a força motriz para todo o desenrolar da trama, que é altamente envolvente e comovente.

O filme pode sim ganhar o Oscar. Tem tudo o que Hollywood gosta: sexo, uma história de drama bem dosada, personagens cativantes e verossímeis e mais um pouco de sexo. Prato cheio x)

4º Milk – A Voz da Igualdade

“Milk – A Voz da Igualdade” trata de uma história também real, e muito mais impactante: conta a história de Harvey Milk, gay assumido e defensor ferrenho da causa, que, nos anos 70, conquistou o direito de ter um cargo público, mesmo em sua situação de homossexual (naquele tempo, ele foi o primeiro).

O filme é uma produção com atores conhecidos, mas não de tão grande peso. Sean Penn realmente guia todo o filme, fazendo certo como em qualquer cinebiografia que se preze. Um dos grandes favoritos para melhor ator, mas não vamos entrar nesse mérito e nos ater ao filme. A história é puramente biográfica (é claro, com alguns retoques romanescos inerentes a qualquer filme que queira abocanhar público e crítica), e conta uma história de luta de uma minoria por direitos em uma época em que gays eram ainda mais mal vistos do que atualmente. Ele tem uma produção belíssima, com muitas cenas externas (impressionando nas marchas, principalmente, onde deveriam contar com um elenco de apoio gigantesco) e o carisma de Sean Penn. Mas, para mim, assim como Frost/Nixon, é fraco, e não acho que vá ganhar.

5º Quem Quer Ser Um Milionário?

E por último (e não menos importante), vêm o “Quem Quer Ser Um Milionário?”, dirigido por Danny Boyle e encabeçado por atores jovens e praticamente desconhecidos no ocidente. O filme abocanhou TODAS as categorias principais em que concorreu no Globo de Ouro, e com muito merecimento. A história gira em torno de Jamal Malik, um auxiliar de atendentes de telemarketing que surpreendentemente chega à última pergunta do famoso game televisivo “Who Whants To Be A Millionaire?”.

Desconfiados, os produtores do programa começam a torturar e perguntar a Jamal como ele conseguiu chegar a última pergunta, uma vez que não tinha instrução ou escolaridade alguma. E, entremeado com lembranças do personagem, ele conta como sabia todas as respostas.
O filme é, realmente, meu favorito. Com todo o oba-oba de Glória Perez com “Caminho das Índias”, o filme talvez faça o sucesso devido aqui no Brasil. A fusão de Hollywood e Bollywood realmente deu certo. A história do filme é altamente cativante: divertida quando tem que ser, triste quando tem que ser. Funciona muito bem. O passado de Jamal, nas favelas da Índia, é retratado com maestria pelas câmeras de Boyle. Particularmente, é meu favorito à estatueta de Melhor Filme.


Apostas estão feitas! E que venha o Oscar!